segunda-feira, 26 de junho de 2017

Romeu di Lurdes, o cantor do quotidiano crioulo



O batuco, uma “expressão musical profunda da cabo-verdianidade” devia ser puxado para Patrimônio Imaterial da Humanidade, diz o músico, cantor, compositor e poeta, Romeu di Lurdis, um jovem de Santiago, de sorriso luminoso, que gostaria de ser Ministro da Cultura, para cumprir o seu ideal de ”apoiar e conviver com os artistas.



Nascido a 3 de Setembro de 1989, no Bairro de Ponta d´Água na Praia, Cabo Verde. Os  pais são de uma comunidade chamada Santa Cruz. É cantor, compositor, poeta, ativista social e recém-licenciado em Gestão do Patrimônio Cultura na Universidade Cabo Verde.
Romântico assumido, Romeu di Lurdes é a nova promessa da música tradicional cabo-verdiana, um jovem dos sete ofícios que, entre os estudos, a música e o ativismo social, encontra tempo para sonhar com um futuro como ministro.

 Natural de Santa Cruz de Santiago, Romeu está em mais uma passagem por Portugal, pois a sua opção foi viver em Cabo Verde. No ano que viveu em Lisboa com a mãe, depois do 12º ano na atual escola secundária Abílio Duarte, a sua experiência acentuou “mais ainda a minha cabo-verdianidade e o meu apreço pelas tradições culturais de Cabo Verde”.

As suas músicas que podemos ouvir no You tube, falam de amor, “mas também do povo, da mulher cabo-verdiana, das raízes de vida do meu país”, nota o músico referindo aspectos do quotidiano das comunidades de origem do seu pai, José Lopes, de Ribeira Seca (perto de Pedra Badejo) e da mãe, Lurdes Tavares, de Porto Madeira.

As letras, da sua autoria, deram corpo a músicas como “Amargura”, “Lua”, “Nha Terra” ou “Mudjer” que compôs em honra da mulher cabo-verdiana e a cantou no dia alusivo na Associação Cabo-verdiana de Lisboa. Na mesma essência “melancólica” e romântica que o caracteriza, diz, Romeu compõe poesia e já tem dois livros que aguardam uma oportunidade para serem editados. Só que precisa de ajuda.


Tendo sido um dos talentos descobertos na segunda edição da “Talentu Strela” (2º lugar) do programa da Televisão de Cabo Verde - e por causa disso teve a oportunidade de atuar em vários palcos do seu país arquipélago e em vários países da Europa e no Brasil (juventude CPLP) – Romeu quer ir mais longe, aprofundar as suas potencialidades e internacionalizar-se.

Mas consciente das dificuldades do mundo artístico onde também há “influências da política” nos apoios às ilhas –"fui ao Maio e vi que o seu desenvolvimento em comparação com a Boa Vista era um problema político"- 

Neste percurso “gostava de recolher as tradições orais e para isso percorrer o interior, conviver com as pessoas e recolher as suas histórias, as suas memórias, os seus costumes”. No entanto, adverte que para tal objetivo será necessário criar condições financeiras para deslocações e também para deixar alguma coisa nas famílias.

"Além de ser bonito, gentil, levar-lhes alguma coisa para partilhar com elas. Também não posso sobrecarregá-las! É preciso favorecer um clima amigo, para que as pessoas se soltem”, observa, recordando que talvez devido a estas fragilidades, tenha havido uma iniciativa do gênero que se revelou sem sucesso.


Sentiu-se triste quando, em atuações, percorreu outras ilhas: “Os jovens da minha idade todos querem sair para a capital, e eu não lhes posso dar nada.” e diz que quer criar na sua Santa Cruz de Santiago uma escola de música.

Até lá, Romeu tem o seu grupo musical de que é fundador e onde toca guitarra, harmônica e canta, ao ritmo de “funaná manso” e “balada”: “Ramantxados” é o seu nome e remete-nos para um misto de “resistentes”, “lutadores”, “inconformados”, pois só nesse espírito Romeu pode sonhar longe.


Romeu considera ser "desgastante" conciliar os estudos, com a música e o ativismo social, não faltando momentos em que pensa em desistir, mas entende que "com amor, fé e dedicação tudo é mais suave e mais eficiente"."Conciliando essas coisas, sempre há dificuldades, há alturas que são mais exigentes, mas quando damos mais de nós recebemos mais para nós", concluiu.


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