terça-feira, 6 de junho de 2017

O “Rei do Funaná”

Zéca di Nha Reinalda






A história de vida de Emanuel Dias Fernandes, ou Zéca di Nha  Reinalda, mistura-se com a história do funaná de Santiago. 
O “Rei do Funaná” continuará a servir de inspiração a toda uma geração que, através do funaná, encontrou uma forma de se emancipar e exprimir. 


Aos 56 anos de idade, Zéca di Nha Reinalda continua ímpar e um dos melhores exemplos da perseverança artística nacional. É, atualmente, um dos mais consagrados e populares artistas cabo-verdianos.

Zéca di Nha Reinalda nasceu no Bairro Craveiro Lopes, no coração da cidade da Praia. Desde criança que a música o fascinava. Frequentemente escutava o pai a tocar e cantar músicas tradicionais de Cabo Verde. Aos oito anos de idade as sonoridades vindas do outro lado do atlântico começaram a atraí-lo, o que fazia com que passasse horas a ouvir música soul norte americana. Tinha em James Brown uma referência. Com ele aprendeu a cantar, a expressar os seus sentimentos profundos, e a dar voz às mensagens que lhe vinham da alma.


Logo após o 25 de abril de 1974, começaram a aparecer muitos grupos musicais em Cabo Verde, alguns dos quais provenientes da Guiné-Bissau. Zezé, o irmão mais velho de Zéca, fazia na altura trocas comerciais entre a Praia e Bissau de onde trazia sempre músicas novas. 

Zéca di Nha Reinalda não perdia a oportunidade de as ouvir e as cantar. Estes sons ritmados iriam estar na génese da criação do grupo musical dos dois irmãos, o Opus 7. O fim do colonialismo e a conquista da Independência Nacional fizeram reviver a música tradicional cabo-verdiana dos anos 40 e 50 (batuque, tabanca e kolá). Os Opus 7 foram dos primeiros a resgatar estes ritmos outrora oprimidos por um regime colonial que não via com bom bons olhos estas expressões culturais tradicionais. 

Através de melodias e arranjos musicais exemplarmente orquestrados sobre uma base rítmica marcante, os Opus 7 ressuscitaram as raízes mais profundas da música de Cabo Verde, contudo, esta inovação não despertaria grande interesse na época, e os Opus 7 não conseguiram o sucesso tão ansiosamente desejado. Tentariam a sua sorte em Dakar, Senegal, mas os problemas financeiros e a falta de instrumentos musicais de qualidade quase ditaram o fim do grupo.

A sua carreira a solo teve início em 1995, logo após o lançamento do último disco dos Finaçon. Gravou, em 1996, “Rapsódia de Funaná” ao que se seguiram “Na Urna”, “Vinti ano depos” , “Camponês” de 2001 ,e em 2003 o álbum “Dia a Dia”. Após 20 anos de funaná, Zéca di Nha Reinalda grava, em 2007, o disco “Na Caminho” no qual faz uma incursão por outros estilos e géneros musicais cabo-verdianos, como o batuque e a coladeira, e que apenas viriam a comprovar a sua versatilidade como intérprete.

A pressão imposta por um mercado competitivo como é o mercado musical é, na sua opinião, uma das condicionantes para que os jovens músicos procurem outras sonoridades e se afastem das suas raízes e tradições. Zéca di Nha Reinalda considera a música de fusão um mal necessário, fruto precisamente dessa pressão e cujo único objetivo é criar produtos globalmente comercializáveis esquecendo muitas vezes as raízes e o que lhes está na origem. Para preservar estas raízes, sugere uma maior intervenção dos responsáveis culturais do país na criação de mecanismos que protejam também outros géneros musicais tradicionais que não apenas a morna. O combate à pirataria e uma maior intervenção na proteção dos músicos cabo-verdianos são outras das preocupações de Zéca di Nha Reinalda.

Iniciativas como a do Banco da Cultura e uma maior integração de músicos nacionais de outras cores políticas em espetáculos e festivais musicais municipais são, para Zéca di Nha Reinalda, iniciativas de louvar. Conforme refere, há músicos com grande talento que apenas anseiam algum apoio inicial e o Banco da Cultura pode ser esse incentivo que tanto necessitam. É ao mesmo tempo, e segundo o artista, uma forma de fazer uma triagem entre os que acreditam no teu talento e trabalho e aqueles que, sem talento e sem trabalho, de alguma forma foram conseguindo apoios.

“Tó Martins”, “Sant’Antoni la Belém”, “Si Manera”, “Proverbio” entre muitos outros temas ficarão para sempre na história do funaná e da música cabo-verdiana. Com quatro décadas de carreira, Zéca di Nha Reinalda, através das suas interpretações únicas e sentidas, conquistou Cabo Verde e o mundo. O Prémio Carreira que recentemente lhe foi atribuído pela organização do Cabo Verde Music Awards faz plena justiça ao inigualável contributo que Zéca di Nha Reinalda tem, ao longo dos anos, vindo a conceder ao funaná e à música tradicional de Cabo Verde.

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