quarta-feira, 19 de abril de 2017

Hélio Batalha: "Tenho um compromisso com a música por isso procuro a excelência"



O rapper 


O rapper de Ponta d’Água, na ilha de Santiago, é uma das referências do hip hop nacional atual. Completa agora 10 anos de carreira e em conversa com o SAPO Muzika fez uma retrospetiva da sua caminhada e revelou alguns planos para o futuro.
Hélio Batalha começou a cantar em 2007.

A sua primeira composição venceu um concurso de rádio, promovido pelo ministério da Saúde e a Praia FM, o que para o artista foi um sinal claro de que o seu percurso seria de sucesso.
Mais tarde, ingressou um grupo de rap, os “Timberland”, mas que não durou muito tempo porque alguns dos elementos emigraram.
Batalha, que cresceu numa família humilde e rodeado de oito irmãos, continuou, sozinho, o seu percurso pelo mundo da música e chegou a gravar três mixtapes: Golpe de Stado I, em 2010, Golpe Stado II, em 2012, Selvas de Pedras, em 2014.
Em 2013, fez a sua primeira participação num projeto internacional “Dreamers”, um intercâmbio que o levou a Itália.
“Sempre soube do meu potencial, sabia que teria espaço neste meio. Mesmo os que já tinham uma carreira no hip hop, na altura reconheciam o meu potencial”, afirmou.

“Hoje estou entre os grandes”

Em 2015, o single "Oh ki fomi txiga", um tema com uma forte crítica social, fez disparar o sucesso de Hélio Batalha. “Este hit fez a minha música chegar até às pessoas que não estão diretamente ligadas ao hip hop e fez-me viajar pelas ilhas pisando grandes palcos como o Gamboa, o Baía das Gatas.”
"Tenho tido um feedback enorme de São Vicente e de todas as ilhas do Norte, isso deve-se com certeza à qualidade do meu trabalho. Porque poucos são os MC de Santiago que conseguem cativar o público do Norte. Para isso tens de estar acima da média, a tua música tem de tocar o público de alguma forma”, explica.
No ano seguinte, em 2016, o rapper venceu na categoria Artista Revelação nos CVMA. "Ser considerado um artista revelação de um país que é considerado um país de música, e sendo que eu represento o hip hop nacional, é sem dúvida uma honra. Representa o fruto do meu trabalho, hoje estou entre os grandes”, diz.

Karta d’Alforia, um clássico do hip hop crioulo made in Cabo Verde

Em novembro último lançou o seu primeiro álbum, “Karta d’ Alforia”, um trabalho que, segundo diz, “atingiu uma dimensão fora do normal”.
“Coloquei todas as minhas forças neste álbum, estive dois anos a trabalhar nele. Karta d’Alforia destaca-se pela diversidade de temas e sonoridades. Optei por falar de temas mais abrangentes, ao contrário do que fiz nos mixtapes onde o foco era a política. Aqui falo de fé e amor como meio de salvação da sociedade”.
A qualidade é também um dos focos de Hélio Batalha. “Tentei trabalhar com os melhores.

A qualidade está presente tanto na produção, na sonorização e nas rimas por isso o álbum pode ser considerado um clássico do hip hop crioulo made in Cabo Verde”.
Batalha, formado em Serviço Social, é um defensor das boas práticas sociais e tenta transmitir isto nas suas letras. "As pessoas não estão interessadas no bem comum, estão todos preocupados com o individual, isso me entristece, e a minha missão na música é minimizar os problemas que nos afetam a todos. O meu maior objetivo é que as minhas mensagens cheguem às crianças e tenho tido um retorno positivo neste sentido”.
Segundo conta, pelas palavras que troca com alguns fãs mirim, consegue perceber que as crianças entendem a mensagem que a sua música carrega. “Não tenho o poder de mudar o mundo mas posso fazer parte do processo de melhorar o mundo e isso me alegra”, afirma.

O hip hop transmite informação e conhecimento

Há cerca de um ano Hélio Batalha vive só de música e para isso diz: “basta ter a capacidade de investir, de organizar e ser humilde”.
“Hoje o hip hop crioulo é visto de uma forma completamente diferente de há dez anos. Atualmente os rapper e MC conseguem causar mudança não só com as suas rimas mas também com os exemplos e é o que tento fazer como cidadão, isto só contribui para melhorar a qualidade deste estilo de música”.
“Já conquistamos um público grande de diferentes faixas etárias, o que é muito importante. É um progresso enorme. Para além de levar vibe e emoção, o hip hop transmite informação e conhecimento, algo que outros tipos de música transmitem muito pouco”, acrescenta.

“Chegou o momento de dar um passo maior”

Dez anos depois de começar a compor e a cantar, Hélio Batalha diz que é hora de reflexão sobre o cenário atual da música no país.
“Hoje não tenho só a visão de um MC. Percorri muitos palcos e dividi o microfone com artistas de diferentes ritmos o que me permitiu alargar os meus horizontes. Aprendi que nesta indústria não se pode dar passos em falso, não basta só ter talento, há que ter um background, contactos. Chegou o momento de dar um passo maior”, confessa.
O rapper, que já trabalhou com artistas como Mayra Andrade, Zeca d´Nha Reinalda, Kady, quer agora conquistar o seu espaço e definir a sua forma de estar neste setor. “Já dei provas do meu talento, mas é preciso mais. Estou focado em capacitar-me, não quero ser só um MC, quero ser uma referência em outras áreas também”.

Ultimamente, Batalha tem-se dedicado às composições e não só ao hip hop. “Tenho estado a compor outros estilos musicais, brevemente poderão ouvir uma composição de Hélio num registo mais tradicional, um funaná se calhar”, diz com um ar de suspense.
O próximo álbum já está em carteira e o cantor assegura que este vai “superar de longe” o “Karta d'Alforia”.
Até junho, o artista tem a agenda preenchida com shows nas ilhas e na diáspora. Já em abril vai fez a abertura do Kriol Jazz Festival, na Praia, e para breve prevê a chegada no mercado de um trabalho que está a desenvolver com o Dino d'Santiago. “Algo bastante profundo, e mais não adianto”, termina entre risos.



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